O palácio Neuschwanstein, comumente chamado de castelo Neuschwanstein, é um ícone da Alemanha e da rota romântica em todo o mundo. Conhecido também como “Castelo da Cinderela” e pela aura de mistério que envolve o rei Ludwig II, são muitas histórias e curiosidades em torno do Neuschwanstein, uma das atrações turísticas mais visitadas da Alemanha.
Nossa entrevista é com o Sr. Prost, diretor da parte turística do palácio.
O Neuschwanstein é hoje mais do que uma atração turística. É um mito, um lugar que está em quase todas as listas de „locais para visitar”. De onde vem essa fascinação pelo Neuschwanstein? É um fenômeno das últimas décadas? Diz-se até que ele inspirou o castelo da Cinderela da Disney.
O palácio Neuschwanstein sempre foi relativamente bem visitado, desde sua abertura em 1886. Já no primeiro ano, foram 1000 visitantes, pois as pessoas vinham para saber como o rei Ludwig II havia vivido. Eram pessoas que viveram no período de regência de Ludwig II ou talvez até o tenham visto ou conhecido e que queriam ver como ele viveu. Era isso que no início, motivava as pessoas a virem ao Neuschwanstein já logo em seu primeiro ano. O Neuschwanstein se tornou cada vez mais um ímã de visitantes, desde 1886, o número de visitantes subia. Já havia guias de viagem, panfletos no século XIX que mencionavam “quem for à Baviera, ou aos Alpes, deve ver o famoso palácio Neuschwanstein” que então, já fazia parte destas listas de “locais a visitar”. Há sempre o fenômeno de que em cada país, há uma atração consolidada. Se você for a Berlim, tem que ver o Portão de Brandemburgo, se for à Índia, tem que ver o Taj Mahal, se os visitantes não tem tempo de ver tudo.
Há também outros palácios na Baviera que são lindos, mas se não tem tempo de ver tudo, verão o que é mais famoso e o Neuschwanstein é o número um, o mais famoso.

Foto: © Bayerische Schlösserverwaltung / Herpich Verlag
Em 1935, depois que o Walt Disney esteve aqui, ele construiu este castelo da Cinderela que teria sido inspirado no Neuschwanstein. Ele esteve aqui, desenhou um palácio muito parecido, que até hoje é o símbolo da Walt Disney Company, que tem muitas similiaridades com o Neuschwanstein. Isto nunca foi desmentido, mas o Disney também não admitiu.

Foto: © Bayerische Schlösserverwaltung / Irma Mayr
Quantos visitantes o palácio Neuschwanstein recebe por ano?
São 1,5 milhões de visitantes por ano. Não somos a atração turística mais visitada da Alemanha, há atrações que recebem mais visitantes, mas que geralmente tem entrada franca. A Catedral de Colônia tem mais visitantes, também o prédio do Parlamento alemão em Berlim, mas tem que se diferenciar se a atração é gratuita ou deve-se pagar entrada. E das atrações com entrada paga, somos a atração turística mais importante da Alemanha.
Quantas pessoas trabalham no palácio Neuschwanstein?
É difícil dizer, pois depende do mês. Nos meses de verão, temos sessenta funcionários na administração do palácio, além dos funcionários temporários, da segurança, da limpeza, das lojas de souvenirs, no bistrô. São empresas diferentes e varia de mês a mês, se você considera os meses de julho e agosto, ou o inverno.

Foto: © Bayerische Schlösserverwaltung / Fotostudio Samer
Para o senhor, qual é a melhor época do ano para visitar o Neuschwanstein?
Isto vai depender do que o visitante quer ver de especial. O palácio Neuschwanstein no verão, é claro, é lindo, se você quiser fazer uma trilha na montanha, é encantador; senão estará tudo com neve, a Marienbrucke como que coberta de açúcar de confeiteiro. Alguns gostam de aproveitar e depois tirar férias para esquiar na Áustria que está aqui perto, depende do seu interesse. As crianças gostam de vir aqui no verão, os esquiadores preferem no inverno, alguns combinam com eventos culturais, com uma visita aos mercados de Natal na Baviera, é difícil dizer. No inverno, também estamos abertos e só há 4 dias em que fechamos: 24 e 25 de dezembro, 31 de dezembro e 01 de janeiro.

Nos arredores do palácio Neuschwanstein não há mercado de Natal, correto? O mais próximo é em Füssen.
Aqui nos arredores mesmo, não tem. Mas muitos visitantes preferem vir de carro e seguem viagem adiante para conhecer os mercados de Natal em outras cidades.
Há alguma curiosidade sobre o palácio Neuschwanstein ou sobre a região que o senhor gostaria de nos contar?
Curioso…ah, às vezes eu acho os visitantes curiosos (risos). Nós temos uma loja de souvenir, na Zimmermannplatz, e na parede lateral, temos pôsters do palácio. Muitos visitantes tiram fotos do pôster – eles não tiram foto do palácio, mas do pôster. Eles tiram foto do Neuschwanstein do pôster e não do palácio de verdade. Isso é algo que acho curioso, quando as pessoas tiram foto de um pôster enquanto o palácio de verdade está ali na frente.

Foto: © Bayerische Schlösserverwaltung
Há muitas coisas que se pode contar sobre o Neuschwanstein. Por exemplo, sempre acho interessante que o lago Forggensee, essa lago enorme que você vê da Sala dos Cantores. Muitos contam e eu já vi pessoas contando que existem imagens antigas do rei Ludwig II, que ele teria nadado nesse lago e isso é totalmente errado, porque o lago só passou a existir na metade século XX. É uma lago artificial de barragem. Acho muito curioso que muitos não querem saber isso.
Qual é a sua sala preferida no palácio?
Há claro, muitas salas e quartos interessantes no palácios. Pode-se contar muito sobre o quarto de dormir, pode-se falar dos aspectos religiosos do rei Ludwig II, também observar dos muitos elementos góticos, as sagas medievais. É possível passar meia hora neste quarto e ainda assim não ver tudo. É com certeza o quarto mais rico em detalhes.

O rei Ludwig II da Baviera foi um personalidade muito interessante e também enigmática, que até hoje nos fascina com suas obras. Como ele chegou à ideia de fazer um castelo sobre um penhasco?
O rei conhecia a região desde a sua infância. Ele passou bastante tempo com seus pais no palácio Hohenschwangau, fazia caminhadas aqui e sabia que lá em cima do penhasco havia ruínas de um castelo medieval. Ele com certeza sabia isso desde jovem. E aí ele teve a ideia de um dia construir ali um castelo com impressões medievais. Quando ele se tornou rei, teve a oportunidade e os meios financeiros para realizar isto.
Quando o rei Ludwig II construiu o palácio, ele não queria ser visitado, mas sim, retirar-se ali em solidão.
Exato. Os palácios eram monumentos a ele mesmo. Ele construiu outros palácios que meio que seguem esse tema. No palácio Herrenchiemsee, voltamos aos tempos do rei Luís XIV da França, do Absolutismo francês. É um palácio para se pensar que está na França. É quase uma reprodução de Versailles. Aqui, no Neuschwanstein, ele queria encenar o tema da Idade Média para si: os cavaleiros, os séculos X e XI, os heróis audazes. Era essa a sua visão de um castelo medieval. Ele teve mais ideias para palácios, como um palácio no estilo chinês, pois o imperador chinês era uma personalidade impressionante. Ele tinha os temas e queria representá-los para si. Nunca foi pensado que milhões de pessoas viriam aqui. Ele queria o local para si, talvez para guiar o Richard Wagner, já que era o grande mecena de Wagner e tinha orgulho de mostrar o palácio para ele, mas ele não queria receber visitantes aqui, isto não.

O trabalho de restauração é um esforço muito importante para conservar o palácio, tanto por dentro quanto por fora. Qual é, ou foi, o trabalho de restauração mais difícil feito no palácio? Qual obra de arte ou sala dá mais trabalho para restaurar ou modernizar?
Sim, claro. No momento estamos restaurando completamente as salas internas. É a maior medida de restaurações que já foi tomada desde a construção do palácio. E o mais difícil é fazer isto ao mesmo tempo em que o palácio está em funcionamento com visitantes. Outros palácios simplesmente fecham quando os trabalhos de restauração devem ser feitos. Em Berlim, por exemplo, no Charlottenburg, eles fecharam por um, dois anos, e ninguém podia entrar. Isso não é possível conosco, pois os visitantes estão em viagem, eles querem ver o palácio Neuschwanstein e este é o grade desafio para os nossos restauradores, que trabalham durante o horário das atividades. O grande problema são coisas como os pisos, que devem ser restaurados enquanto os visitantes caminham, por exemplo. Individualmente, as peças e objetos não são problema, como dourar um lustre no período da noite, ou restaurar um quadro. O problema é fazer isto durante o horário de funcionamento.

Foto: © Bayerische Schlösserverwaltung
Algumas partes do palácio foram terminadas após a morte do rei Ludwig II, ou seja, o palácio não estava pronto quando ele faleceu.
Exatamente. Somente uma parte do palácio estava pronta quando ele faleceu e o restante foi fortemente simplificado e terminado, ou não foi construído. Algumas coisas não foram feitas até hoje.
O senhor acredita que, depois da pandemia da Covid-19, serão adotadas novas medidas para a visita ao Neuschwanstein?
Isso ainda vai acontecer. Estimamos que após o palácio voltar a ser aberto ao público, será com grandes medidas de segurança, como o que todos os museus na Alemanha devem vir a fazer, com o distanciamento obrigatório, e etc. Certamente, nos próximos meses, teremos o funcionamento bastante restrito. Isto ainda vai ser ajustado com Munique e em duas ou três semanas seremos capazes de dizer o que exatamente será implementado. Isto ainda está em fase de decisão.
Esta é uma pergunta que fazemos a todos os nossos convidados em nossas entrevistas. Qual museu, cidade ou atração na Alemanha o senhor recomendaria aos viajantes?
Se você quiser continuar na temática do rei Ludwig II e estiver na Baviera, há um palácio e também museu que frequentemente não é muito falado, que é o palácio Herrenchiemsee. É um palácio gigante, cuja construção foi inspirada em Versailles, e a Sala dos Espelhos no palácio Herrenchiemsee é até maios do que o original em Versailles. Muitos não sabem disso. É uma sala muito impressionante e o que é bem bonito, é que deve se chegar ao palácio de barco, pois fica em uma ilha. É uma experiência. Você chega de barco a esta ilha e lá está este palácio gigante, você faz uma visita guiada, depois visita outros museus que ficam na ilha. É um belo lugar para passeio, também aqui na Baviera, e se você quiser se manter ocupado com a vida do rei Ludwig II, pode concluir esta viagem conhecendo outras facetas de sua vida.

Foto: © Bayerische Schlösserverwaltung
Perguntas do Instagram
Quanto tempo durou a construção do palácio?
Até a morte do rei Ludwig II, 17 anos, de 1869 até 1886 e ainda mais um pouco depois disso, pois quando Ludwig II morreu, o palácio não havia sido terminado. No total, foram cerca de 20 anos de construção.
Por que não é permitido fotografar no interior do palácio?
Ah sim, há motivos diversos. Em muitos museus, não é permitido fotografar, pois atrapalha o decurso de uma visita guiada e na Alemanha temos regras bastante rígidas de proteção de dados e nem todos querem ser fotografados. Se há um visitante na sala que está tirando fotos e eu apareço na foto dele, eu não quero isto como visitante. Também queremos proteger nossos outros visitantes para que não apareçam nas fotos de um outro turista em algum lugar do mundo, ou que no final poderão ser publicadas em algum lugar e eles aparecem no Neuschwanstein. Isto não é muito correto.
P.S. Nossa conversa por telefone aconteceu em maio de 2020 e foi traduzida e transcrita por mim (Rafaella). As legendas das fotos são de nossa autoria. Agradecemos gentilmente ao Sr. Prost pela entrevista concedida e ao órgão de administração dos palácios da Baviera (Bayerische Schlösserverwaltung) pelas imagens cedidas.